Na década de 1950, no pós 2a. Guerra Mundial, com a Europa Ocidental de novo totalmente arrasada, a América do Norte prosperou muito com o fornecimento de material bélico e outros produtos necessários para a guerra.
Família americana num piquenique.
Pela proximidade e outros atrativos, a do Sul prosperou também porque não houve conflitos de guerra.
Novas lojas de vendas em grosso (atacadistas) surgiram mais intensamente nas capitais do Brasil.
Os clientes vinham do interior dos estados para abastecer os seus pequenos negócios nas localidades de origem.
Eles vinham para comprar miudezas como sabonetes, pastas de dentes, agulhas, linhas, botões, tecidos, talcos, brilhantinas, perfumes, cartelas de pressão, panelas, biscuits etc.
Os proprietários das lojas em grosso eram imigrantes ou descendentes, a maioria libaneses, turcos e judeus que resolveram fazer o que mais sabiam que era vender mercadorias.
Conseguiram com muito esforço, trabalho e economizando muito, sacrificando suas famílias com uma vida austera.
Um desses comerciantes era o meu querido pai Antônio.
Ele, depois de trabalhar como mascate (caixeiro-viajante) no interior da Paraíba, acumulou dinheiro suficientes para abrir uma loja com um sócio amigo em Campina Grande, cidade importante da Paraíba.
Essa primeira experiência foi terrível, abalou tanto a sua mente que eu acho que foi depois disso que ele ficou diabético e sua saúde nunca mais foi a mesma.
Ele descobriu que o sócio e amigo estava desviando e roubando dinheiro da loja.
Ele ficou arrasado.
Era por volta de 1947 que ele resolveu desfazer a sociedade para abrir uma loja em Recife.
Foram 2 os motivos, um foi por causa do roubo, o outro foi porque a minha mãe que estava grávida de mim, não queria ter filhos paraibanos era o preconceito da época.
Todos os meus 3 irmãos mais velhos (a 1a. Maria José morreu em pouco tempo) e depois eu e mais outras duas nascemos em Recife na maternidade do hospital português, .
Papai era um homem que não gostava nem de fofocas nem mentiras, era um homem discreto, honesto, de caráter e respeitado por todos
Papai tinha uma loja de miudezas no centro do Recife na rua do Rangel perto do mercado de São José.
Eu não lembro exatamente a minha idade na época que papai começou a me levar para a loja nas minhas férias do colégio, eu acho que eu devia ter uns 10 anos.
Papai não me obrigava a ir para a loja, ele me acordava assim:
— Michêll vai trabalhar?
Era assim que ele me chamava porque não conseguia pronunciar Michel, por causa do sotaque.
Eu levantava no mesmo segundo e respondia SIM, apesar de querer brincar com os meus amigos eu escondia a minha decepção, o respeito e o amor que eu tinha por ele não deixava de eu agir diferente.
Hoje tá muito diferente alguns filhos não respeitam os pais, e muitas vezes fazem pior!
Na loja papai não deixava eu entrar no escritório, ele dizia que o meu lugar era na embalagem junto com mais 3 embaladores fazendo enormes pacotes das mercadorias vendidas.
Foi assim que eu comecei a minha vida de comerciante.
Como meu irmão mais velho Zé Antônio não gostava de loja, ele gostava era de fábrica, acho que papai pensando na continuidade da loja que era o único sustento da família, e ainda com a saúde fragilizada me escolheu para essa tarefa.
Obrigado pela atenção e pelo interesse.
Isso é muito gratificante.
Um abraço,
Michel
E-book loja física*