A 6a. História*

O comerciante normalmente não tem férias, as férias acontece quando ele viaja para fazer compras para a loja ou nos feriados prolongados.

Normalmente viagens de negócios precisam ser rápidas para não ficar longe da loja, por isso a opção são os aviões.

Na década de 1970, tinha a opção: o navio Rosa da Fonseca que ia do Rio de Janeiro até Manaus na Amazônia.

A gente podia comprar uma parte do percurso, por exemplo: do Porto do Recife até o Porto do Rio de Janeiro, pegando o navio já voltando de Manaus.

Em Recife tem a famosa agência Luck que na época tinha a exclusividade nas vendas para essa viagem.

Eu nunca tinha viajado de navio, sempre viajei de avião 2 ou 3 vezes por ano para fazer compras em São Paulo, Curitiba e Vale do Itajaí: Blumenau e cidades próximas.

Dessa vez eu resolvi que ia de navio, liguei pra agência Luck e fui atendido por uma mulher com a voz grossa que fez eu imaginar que ela era idosa e bem corpulenta.

Ela me atendeu muito bem e me explicou como funcionava, eu concordei e pedi para ela mandar um funcionário trazer a passagem e receber o dinheiro.

A loja ficava a mais ou menos a um quilômetro da agência no centro da cidade.

Ela disse que eu tinha que ir pessoalmente na agência porque não tinha funcionário para esse serviço.

Eu insisti ameaçando desistir, foi quando ela disse que ia mandar um portador.

Depois eu soube que o portador era um conhecido que por acaso estava na agência naquele momento.

No dia da viagem eu cheguei no final da tarde exausto para embarcar no navio.

Depois de andar de braços com a minha irmã Deda para conhecer o navio fui para recepção.

Uma moça bonita estava chamando os passageiros pelo nome, eu ouvi:

— Michel. 

Eu tava tão exausto que respondi sem paciência:

— Sou eu, por que?

Esse momento depois foi lembrado com muitos risos!

Eu tinha imaginado tudo errado, aquela era a moça que me atendeu e me vendeu a passagem.

Eu homem solteiro, bem de vida e boa aparência, pensei logo, vou procurar ela durante a viagem.

Ela me alojou numa enorme cabine só para mim, sem acompanhante, embora fosse para 3 pessoas, gostei do privilégio!

Entrei na cabine e apaguei de cansaço, no dia seguinte perguntei pela garota, o nome dela era Myriam e disseram que ela era de terra não viajava, só recebia e alojava os passageiros

Conformei, e na viagem conheci uma menina que estava viajando com a tia, não lembro o nome mas morava em São Paulo.

No fim da viagem eu fui do Rio para São Paulo, acho que fui de ônibus.

Antes de pegar um avião para Santa Catarina, eu ficava em São Paulo na casa de meu primo Nelson.

Em São Paulo eu precisava fazer algumas compras nas fábricas de tintas e outros produtos.

Tintas Acrilex.

Para me locomover eu combinava com um taxista, pagar a gasolina + uma diária para o dia todo.

Bom para mim e bom para ele, tanto é que repetimos isso várias vezes em outras viagens.

Marquei um encontro com aquela menina que viajou com a tia.

Era de dia, o meu primo me emprestou o carro dele e fui para o meu encontro na saída de um colégio.

Quando ela apareceu, pense na minha surpresa, ela continuava bonita mas aquele mulherão do navio toda vestida estava agora com a farda do colégio, era uma menininha muito nova para mim, acho que menos de dezoito anos.

Conversamos, não saímos embora ela queria, não a procurei novamente.

Depois sai com uma enfermeira conhecida e foi só.

Quando decidi que era hora de comprar a passagem de avião até o aeroporto de Itajaí, o meu primo me fez uma oferta para a gente ir no carro da mãe dele, um Alfa-Romeo azul marinho, bancos de couro, volante de madeira e ar condicionado.

Não era essa cor, era um azul marinho lindo, era o top.

Aceitei a proposta na hora e dei para ele metade do dinheiro que eu levava.

Não sei como a mulher dele deixou ele ir?

Ele era um galã, pegava a mulherada de São Paulo.

Não tenho a foto dele, mas quando eu olho para esse ator, estou vendo ele, não só o rosto mas também o corpo.

Depois da meia noite ele me perguntou se eu topava não dormir e pegar o carro e começar a viagem, aceitei a aventura na hora.

Foi realmente uma aventura inesquecível, fomos direto até Porto Alegre no Rio Grande do Sul, onde logo que chegamos na cidade, conhecemos duas garotas loiras muito bonitas.

A que ficou comigo me deu um presente, aquela doença que se pega no sexo, a Gonorreia que eu só descobri na viagem de volta a Recife, depois eu me tratei com um único comprimido.

Ainda visitamos a fria cidade de Caxias do Sul onde enchemos a mala do carro com garrafões de vinho daqueles famosos de vinícolas artesanais onde as uvas são pisadas.

Os garrafões de vinhos foram presentes de um tio dele dono de fábricas e dono do hotel onde ficamos hospedamos de graça.

E retornamos para Blumenau os dois sem dinheiro, dormindo no carro.

Numa dessas dormidas, tudo escuro ele disse que estava ouvindo as ondas do mar, quando amanheceu o que se via era um campo com muitos bois pastando.

Rimos muito.

Na chegada a Blumenau, ele parou em um ateliê de Quadros.

Desceu sozinho e depois de algum tempo lá vinha ele junto com um alemão característico com o rosto vermelho resmungando:

— Estou ficando maluco, trocando Quadro por vinho!

Nelson era um enrolão nato, ele deve ter valorizado o vinho inventando coisas, convencendo o alemão do imenso valor do vinho.

O  Quadro era presente para a sua esposa.

Para não alongar, vamos fazer uma pausa.

Obrigado pelo interesse e pela paciência.

O meu nome é Michel.

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